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Unidade Ferida: Fé, Partidarismo e a Igreja em Divisão

31/03/2025
  • Unidade Ferida: Fé e Partidarismo na Igreja Dividida

O que nos une é infinitamente maior do que aquilo que nos separa. No entanto, nos dias atuais, esse fundamento da fé cristã parece se dissolver em meio a disputas políticas travestidas de espiritualidade. A politização da fé, por vezes revestida de um moralismo seletivo e de uma retórica inflamável, tem criado uma rede de “fofocas católicas” que desvirtua o Evangelho, divide a Igreja e esvazia o testemunho cristão.

Como no tempo de Paulo, muitos hoje se declaram “deste" ou "daquele”, como se a fé cristã tivesse se tornado um palanque, um feudo ideológico ou uma trincheira moral. "Eu sou de Paulo", "eu sou de Apolo"... E Jesus de Nazaré, o Cristo, onde está nesse discurso fragmentado?

1. A Igreja como Corpo e não como Campo de Batalha

A Igreja é Corpo Místico de Cristo. E corpo que se divide contra si mesmo adoece, enfraquece, perde sua credibilidade e sentido. Quando membros da Igreja se armam uns contra os outros, criando partidos de dentro para fora, o que está sendo comunicado ao mundo é um evangelho truncado, rebaixado à mera disputa de poder, onde o centro já não é mais o Cristo, mas preferências pessoais, ideologias ou vaidades travestidas de piedade.

O escândalo não está no mundo – está no comportamento de irmãos que dizem professar a mesma fé, mas agem como adversários dentro da mesma casa. Essa lógica da disputa, que transforma diferenças legítimas em rupturas destrutivas, é incompatível com o Evangelho. Como nos recorda o Papa Francisco, "a divisão é obra do diabo, e ele joga sujo".

A unidade, portanto, não é um capricho eclesial, mas exigência da própria missão cristã. Cristo rezou: “Que todos sejam um” (Jo 17,21). Essa não é uma sugestão, mas um imperativo.

2. O Evangelho do Lava-Pés e o Testemunho Esquecido

“Se eu, sendo Mestre e Senhor, lavei os pés de vocês, também vocês devem lavar os pés uns dos outros” (Jo 13,14). Este gesto de Jesus não é decorativo. É pedagógico. É provocativo. E é profundamente político, no sentido mais nobre da palavra. Lavar os pés é abaixar-se diante do outro com humildade, amor e serviço – exatamente o contrário do que temos visto nos palcos da vaidade e das redes de polarização interna na Igreja.

Fé vivida com maturidade é fé que rompe bolhas. É fé que une, não que segrega. É fé que escuta antes de julgar. Que acolhe antes de apontar. Que serve antes de dominar. A Igreja de Cristo não precisa de líderes messiânicos nem de guias personalistas, mas de testemunhas fiéis, discretas, comprometidas com a simplicidade e a verdade do Evangelho.

A fé não se impõe. Ela se propõe. E sua força não está em argumentos de poder, mas no poder do amor, que transforma pelo serviço. Dividir a comunidade por motivações político-partidárias é uma traição à missão de Cristo. A política é necessária, e os cristãos têm o dever de se engajar com responsabilidade na vida pública. Mas instrumentalizar o sagrado para fins políticos ou eleitorais é perversão da fé.

3. Confundir Reino de Deus com projeto de poder é idolatria

Existe uma enorme diferença entre professar a fé com liberdade e instrumentalizá-la com fins ideológicos. A laicidade do Estado é uma conquista civilizatória que protege a liberdade religiosa. Da mesma forma, a autenticidade da fé deve ser protegida contra a corrupção provocada pela idolatria do poder.

Basta abrir os olhos para perceber que há quem queira transformar a fé em moeda política, usar símbolos cristãos como escudo para discursos de ódio, intolerância e exclusão. O que isso tem a ver com o projeto de Jesus de Nazaré, que acolhia os excluídos, tocava os impuros, restaurava a dignidade dos esquecidos e derrubava os muros da segregação?

A tentativa de transformar o Evangelho em um programa partidário, seja de direita ou de esquerda, é uma profanação da sua universalidade. É uma traição ao Cristo que disse: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Fé e política devem dialogar, mas jamais se confundir.

Quando um cristão reduz sua identidade a um viés político, perde de vista a radicalidade do Evangelho. É preciso cuidar para que a fé não se torne refém de ídolos modernos disfarçados de causas justas.

Um Convite à Reflexão

O momento exige discernimento. O que está em jogo não é apenas a imagem da Igreja, mas sua credibilidade e missão. Dividir o Corpo de Cristo é trair a sua essência. A unidade não significa uniformidade de pensamento, mas comunhão na diversidade. É possível pensar diferente, votar diferente, preferir ritos distintos e ainda assim professar a mesma fé e servir ao mesmo Senhor.

A Igreja não precisa de "torcidas organizadas", mas de discípulos comprometidos. O mundo precisa de testemunhas, não de propagandistas. O Evangelho é boa notícia, não arma de ataque. O serviço é ato de humildade, não de estratégia. A unidade é graça, mas também escolha cotidiana.

Sigamos, pois, o exemplo de Jesus. Em tempos de polarização e ruído, lavar os pés do irmão pode ser o gesto mais revolucionário e evangélico que podemos oferecer. Que Ele cresça e que nós diminuamos.

Por Harlei Noro | Pensamento crítico com apoio GPT

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